quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Boqueirão

por Lucas Cardim

foto: Lucas Cardim


Na caçamba de um caminhão indevidamente adaptado como transporte escolar, seis adolescentes conversam alto. Ralyson Morais de Moura, José Carlos Lima, Adryanne Dannyele Macedo, Jefferson José Galdino, Maria de Fátima Martins da Silva e Yolanda Lúcia de Oliveira não trabalham, se ocupam basicamente de ir ao colégio pela tarde e estudar ou se divertir nos horários que sobram, o que inclui algumas aulas vagas. Moram todos na região do Sangradouro, distante 21 quilômetros da escola. O lugar tem esse nome devido a um açude que sangra próximo, costuma deixar as ruas enlameadas, difícil para andar.

Em Boqueirão, transporte escolar – ainda que irregular – é algo extremamente presente e tão essencial para a educação quanto os próprios professores. Todos os alunos matriculados em escolas municipais e estaduais, que não moram próximo o suficiente para irem andando, têm acesso aos caminhões. Entre a ignorância e o perigo, o perigo.

Os seis estudantes da caçamba de caminhão continuam todos no colégio desde os cinco anos. Entre aspirações a uma profissão qualificada, também dão uma resposta ao esforço dos pais e mães. Alguns deles só estudaram até a alfabetização, nenhum foi além da segunda série. Pararam para trabalhar, coisa que fazem até hoje e não desejam tal interrupção para os filhos. O que ajuda, independente do uso político que algumas prefeituras e governos no interior do nordeste fazem, é que todos recebem o bolsa família para manterem os filhos na escola. O dinheiro não é dado, vem dos bilhões de reais que o governo federal arrecada em impostos todos os anos. Quanto aos pais dos seis adolescentes, todos trabalham honestamente, colhem pimentões, plantam verduras ou exercem outras atividades rurais. Seus filhos poderão completar os estudos. A expectativa é que a qualidade de ensino acompanhe, ainda nessa geração, todo esse tempo investido.

Boqueirão, Paraíba, Brasil. 04 de dezembro de 2008.

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