segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Desejos em Chã de Alegria

por Caio Azevedo

Jaiurte tem 14 anos e desejos. É um rapaz alto, inteligente, atencioso e tem um sorriso tímido que revela seus dentes com aparelho de borrachas brancas e vermelhas. Leva no peito um pequeno colar com o escudo do time de São Paulo. Talvez esse seja o motivo de seu riso: seu time é recém-campeão. Ele mora em Chã de Aldeia, um dos muitos sítios, ou distritos, do município de Chã de Alegria e veio à cidade para acompanhar a caminhada da caravana do selo UNICEF. “Eu não sei direito o que é, lá na escola eles disseram que a cidade ia receber o selo e que isso era bom”. Sua prova de história teve de esperar um dia. Cursa primeiro ano do ensino médio no PETI (Programa de Erradicação de Trabalho Infantil), implantado há dez anos em Chã de Alegria. Lá, Jaiurte aprende a tocar flauta, tem aulas de arte, pintura e esportes. Infelizmente, essa não é a realidade de todos os jovens do local: a região tem muita cana-de-açúcar e, quando a mão de obra é escassa, crianças aprendem cedo a manejar o facão. Jaiurte garante que esse número diminuiu muito, mas ainda existe. “As famílias que têm filhos na escola recebem Bolsa Família, isso ajuda muito”, afirma.

Jaiurte quer que o São Paulo seja campeão novamente, terminar o ensino médio e cursar Direito. Onde? “Não sei, isso eu penso depois”, responde se esquivando. Kelly, 13, Gerlane, 14, e Simony, 13, também estudam no PETI e jogam handebol há pouco mais de um mês. Que pensam do futuro? “Quero continuar a jogar handebol. A gente já ganhou de seis a um“, responde Gerlane. Pensar no futuro é sempre complicado, mas esses meninos afirmam não quererem sair de Chã de Alegria.

Mesmo a contragosto, sair foi o destino de Rosário. Mulher batalhadora, sua pele parece ter mais do que os 43 anos indicados em sua identidade. Nascida e criada em Chã de Alegria, Rosário partiu para São Paulo há 19 anos, porém, não torce pelo time que leva o nome do Estado. “Fui para lá com meu marido e meus dois filhos, um menino e uma menina. Não tive opção, aqui não tinha trabalho”. Rosário trabalha na área de higiene hospitalar de uma clínica em São José dos Campos. Chegou a Chã de Alegria dia três desse mês com seu filho para passar o fim de ano com a mãe, uma senhora cega de 78 anos. O que Rosário pensa do futuro? “Quando eu me aposentar, volto pra morar em Chã. Aqui é lugar pra morar, apesar dos problemas”. Para isso, ela vai ter de esperar 14 anos.

Chã de Alegria, Pernambuco, Brasil. 08 de dezembro de 2008.

Um comentário:

Samarone Lima disse...

Muito bom, seu Caio, muito bom. Aguardo novas notícias.
Samarone Lima, caravaneiro há dois anos.