sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ednaldo e os feijões

por Lucas Cardim

foto: Sandokan Xavier


Na rua seca e esbranquiçada pelo sol a pino, um menino de um metro e trinta, sem camisa e queimado pelo tempo, corre em brincadeiras completamente alheio à festa da cidade. Calção azul fuleiro, pés nus em direção à sua pequena casa de cal, miúda, um quarto, meia sala e três irmãs. Ednaldo de Lima Silva, sorriso divido entre as janelas e cáries, apresenta a sua família. Sentada em um sofá rasgado, Dona Edileuza cata feijões para o almoço dos filhos. Tem 28 anos, bochechas grandes, pele morena acentuada pelo sol e uma vida – a julgar pelos parâmetros das classes médias e altas do Brasil e parte do mundo– impossível. Seu Marido, seu Josinaldo, trabalha em um pequeno roçado, planta batata, coentro e milho. O roçado é pouco, a renda da família é de 20 reais por semana e o dinheiro acaba rápido para comprar comida e carvão.

Dona Edileuza já passou fome em dias de seca, não sabe ler nem escrever e seu corpo é mais envelhecido que a idade devido a anos de trabalho infantil, jovem e adulto. Seus filhos, ainda que não tenham brinquedos, possuam cáries , pés descalços e roupas velhas, frequentam a escola . Ao ver seu nome em letras rápidas no bloco de anotações, a pequena Luana, de dez anos, rapidamente corrige a letra feia de quem escreve, afirmando que seu nome é de Lima e não di Lima, como sugerem os garranchos. Alfabetizada, inteligente, Luana lancha na escola diariamente, gosta de português, mostra os cadernos no único quarto que a família tem para dormir. Sua irmã Lidiane, 8 anos e cabelos ao céu, também já sabe ler e escrever, cursa a segunda série, uma a mais que Ednaldo, às voltas pela casa com o galo que a família cria para vender. Dona Edileuza encerra os feijões no sofá rasgado, no seu colo, a caçula Michele sorri. Entrará na escola no próximo ano, assegurando à sua casa a manutenção do bolsa família, 120 reais que, infelizmente, estão longe de ser dispensáveis. As crianças brincam, se despedem apertadas na janela da pequena casa de cal. Sorridente, o alfabetizado Ednaldo almoçará feijões.

Rua Belo Jardim n. 40, Esperança, Paraíba, Brasil. 05 de dezembro de 2008.

2 comentários:

Samarone Lima disse...

Amigos, esse material está realmente muito bacana. Falo do texto e foto.
Boa caravana.
Samarone Lima

Unknown disse...

Gostei muito da forma sensível como vocês da Caravana UNICEF têm conseguido descrever o cotidiano das crianças , jovens e adultos, e do relato de como o pouco que se tem feito, quanto muito tem se alcançado e quanto tanto tem que se fazer.Ficamos com vontade de ler mais e saber mais sobre esse povo que com tão pouco consegue tanto.