sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Onze anos

por Lucas Cardim

Na quadra esportiva da cidade de Remígio, mais de mil pessoas, cidadãos, celebram com razão os avanços da cidade na educação. Entre índices de abandono escolar, número de crianças entre 4 e 5 anos na escola, adolescentes que concluíram o ensino médio e distorção entre idade e série, todos os percentuais reduziram ou aumentaram de maneira positiva para a cidade. Longe dos números e das letras, uma pessoa com nome e rosto observa as apresentações.

Onze anos, mãos ásperas, pés sujos e lábios rachados pelo sol, observa maravilhado uma festa da qual não faz parte. Questionado se estuda, Onze anos afirma com a cabeça que sim, os lábios cortados incomodam. Diz nervoso ter saído do colégio aos sete e voltado há um ano e meio, gagueja e não sabe dizer o nome da escola nem nomes de professoras. Onze anos está cansado, acordou às cinco da manhã, deu comida aos cavalos e veio andando, cerca de dois quilômetros, até a cidade. Envergonhado pelos olhares alheios enquanto senta na arquibancada, intimidado pelas perguntas, salga os olhos. Acorda com frio, Fazenda Capim Dourado, trata cavalos, passa a manhã e parte da tarde trabalhando pesado. Onze anos é mais baixo que os meninos de sua idade, em sua cabeça um boné estampa a palavra Cowboy, muito embora não saiba ler nem escrever em português e sejam os cavalos que o tomam a infância. O menino, de rosto cansado, volta a prestar atenção na festa.

Remígio merece comemorar. Quase triplicou o percentual de jovens com ensino fundamental completo, de 7,7 para 22,6%, reduziu a distorção idade série de 55,1 para 17,4 % e baixou para 9,2% a taxa de abandono escolar na rede municipal. De fato, não é um avanço pequeno e isso faz muita diferença para milhares de crianças na escola. Outras, infelizmente, apenas envelhecem.

foto: Sandokan Xavier


Remígio, Paraíba, Brasil. 05 de Dezembro de 2008.

Um comentário:

Luana disse...

Tava ansiosa esperando esse texto. Muito bom!