Na quadra esportiva da cidade de Remígio, mais de mil pessoas, cidadãos, celebram com razão os avanços da cidade na educação. Entre índices de abandono escolar, número de crianças entre 4 e 5 anos na escola, adolescentes que concluíram o ensino médio e distorção entre idade e série, todos os percentuais reduziram ou aumentaram de maneira positiva para a cidade. Longe dos números e das letras, uma pessoa com nome e rosto observa as apresentações.
Onze anos, mãos ásperas, pés sujos e lábios rachados pelo sol, observa maravilhado uma festa da qual não faz parte. Questionado se estuda, Onze anos afirma com a cabeça que sim, os lábios cortados incomodam. Diz nervoso ter saído do colégio aos sete e voltado há um ano e meio, gagueja e não sabe dizer o nome da escola nem nomes de professoras. Onze anos está cansado, acordou às cinco da manhã, deu comida aos cavalos e veio andando, cerca de dois quilômetros, até a cidade. Envergonhado pelos olhares alheios enquanto senta na arquibancada, intimidado pelas perguntas, salga os olhos. Acorda com frio, Fazenda Capim Dourado, trata cavalos, passa a manhã e parte da tarde trabalhando pesado. Onze anos é mais baixo que os meninos de sua idade, em sua cabeça um boné estampa a palavra Cowboy, muito embora não saiba ler nem escrever em português e sejam os cavalos que o tomam a infância. O menino, de rosto cansado, volta a prestar atenção na festa.
Remígio merece comemorar. Quase triplicou o percentual de jovens com ensino fundamental completo, de 7,7 para 22,6%, reduziu a distorção idade série de 55,1 para 17,4 % e baixou para 9,2% a taxa de abandono escolar na rede municipal. De fato, não é um avanço pequeno e isso faz muita diferença para milhares de crianças na escola. Outras, infelizmente, apenas envelhecem.
foto: Sandokan Xavier

Remígio, Paraíba, Brasil. 05 de Dezembro de 2008.
Um comentário:
Tava ansiosa esperando esse texto. Muito bom!
Postar um comentário