quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Santarém

por Lucas Cardim

"A vida aqui é dura, de doer pé e mão", diz seu Norberto de Oliveira. Sentado na frente de uma pequena casa em Santarém, descansa. Trabalha todos os dias nas terras de Geraldo Pinto. Se tira três sacos de qualquer coisa, um vai para o dono das terras. Quando criança, era preciso plantar com os pais e irmãos, acabou nunca sentando em um banco para ler e escrever. Seu Norberto é mais feliz em época de chuva: tira feijão suficiente para todos da família, troca o milho que sobra por óleo e fósforo. Nas épocas de seca, não faz nada. Lembra depois que vez por outra o prefeito o chama para trabalhar nas casinhas, construindo. O aluguel de onde mora é de trinta reais, dá uma risada quando perguntado se come carne.

Próximo dali, seus dois filhos brincam na chuva. Chutam a água que desce rápido a ladeira de paralelepípedos. O mais velho sabe mais ler que escrever, o mais novo – aos 8 anos – nem isso. Seu Norberto observa os meninos. Se vão ter uma vida melhor que a do pai, diz não saber. Por enquanto, pés e mãos, seguem brincando na chuva.

foto: Sandokan Xavier


Santarém, Paraíba, Brasil. 10 de dezembro de 2008.